Este blog é direcionado para os alunos da Escola Municipal Genildo Miranda no Sítio Lajedo em Mossoró-RN, para os alunos da Escola Estadual Rui Barbosa no município de Tibau-RN, para todos aqueles amantes da Educação Geográfica e também para os que se propõem a discussão de uma Educação contextualizada.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Frágil império

Largas faixas de coral, visíveis ao largo da costa leste da Austrália, assinalam o limite entre a plataforma continental e as águas mais profundas. (Foto de David Doubilet).

Minúsculos pólipos criaram uma obra-prima da natureza: a Grande Barreira de Coral. Mas esse paraíso azul corre perigo.

 Pouco abaixo da superfície do mar de Coral, onde fica a Grande Barreira, os dentes dos peixes-palhaço roem as pedras, as garras dos caranguejos estalam em disputas por locais de refúgio e uma garoupa de 275 quilos se anuncia com um baque impetuoso ao fazer pulsar sua bexiga natatória. Tubarões passam como relâmpagos. Braços de anêmonas se agitam e minúsculos peixes parecem saracotear. Tudo o que não consegue se agarrar a algo rígido é arrastado e revirado a cada onda do oceano. 

A diversidade do recife explica em parte por que essa barreira de coral foi batizada de grande. Ela abriga nada menos que 5 mil tipos de molusco, 1,8 mil espécies de peixe, 125 variedades de tubarão, além de incontáveis organismos microscópicos. Porém, o mais fascinante de tudo isso - e o que fez do lugar um Patrimônio da Humanidade - é a vasta extensão de corais, desde o Acropora cervicornis, que mais parece uma flor, até matacões recobertos de pardacentos corais nodosos, tão semelhantes ao couro quanto uma sela de montaria. Os corais moles se sobrepõem aos duros, as algas e as esponjas definem o colorido das rochas e todas as fendas servem de lar para algum tipo de animal. Não há biodiversidade equivalente em nenhuma outra parte do mundo.

O tempo, as marés e um planeta em constante mutação deram origem à Grande Barreira há milhões de anos. Agora, porém, todos os fatores que contribuem para o crescimento do recife estão se alterando em um ritmo jamais registrado.

Descoberta pelo Ocidente
Os europeus tiveram as primeiras notícias da Grande Barreira de Coral por intermédio do capitão James Cook, um explorador britânico que a descobriu por acaso. Em um crepúsculo de 1770, ao ouvir o som de madeira chocando-se contra rochas, Cook não fazia ideia de que seu barco havia topado com a maior estrutura viva do planeta: mais de 26 mil quilômetros quadrados de faixas e ilhotas de coral que aparecem e somem de forma sinuosa por 2,3 mil quilômetros.

Cook explorava as águas ao largo do atual estado australiano de Queensland quando seu navio, o HMS Endeavour, acabou preso no labirinto de recifes. Logo abaixo da superfície, torres aguçadas de coral penetraram o casco da embarcação e interromperam o seu avanço. Enquanto o madeirame se rompia e permitia a entrada da água do mar, a tripulação reuniu-se no convés, "com semblantes que exprimiam o horror diante da nossa situação", conforme Cook anotaria mais tarde em seu diário. O capitão e seus homens, porém, conseguiram chegar até a foz de um rio, onde puderam reparar a embarcação.

Na época em que os europeus se chocaram contra as rochas, a região já vinha sendo ocupada há milênios. Em termos culturais, a barreira de coral era um elemento crucial da paisagem para os povos aborígines e os habitantes das ilhas do estreito de Torres, que ao longo de incontáveis gerações a haviam explorado com canoas e ali pescado e compartilhado mitos sobre as suas criaturas. Décadas após o encontro de Cook com o monstro submerso, o cartógrafo inglês Matthew Flinders - que também enfrentou contratempos ao enveredar por entre os recifes - batizou a formação, inspirado em suas dimensões, de a Grande Barreira de Coral. Se os blocos principais desse recife fossem retirados do mar e postos a secar, as rochas cobririam uma área equivalente à do estado de Sergipe.

Expansão e erosão: O imenso recife deve sua existência a organismos que não são maiores do que um grão de arroz. Os pólipos, os elementos básicos do coral, são animais que vivem em colônias e abrigam algas simbióticas em suas células. Como essas algas são capazes de fotossíntese - ou seja, usam a luz para gerar energia -, cada pólipo tem condições de segregar uma "casa" de carbonato de cálcio, ou calcário. À medida que cada uma dessas casas se sobrepõe a outras, a colônia se expande tal qual uma cidade; criaturas marinhas logo se agarram à estrutura e proliferam, ajudando a consolidar essa estrutura.

Ao largo do litoral leste da Austrália, as condições são bastante favoráveis para essa formação. Os corais crescem sobretudo em águas rasas, límpidas e agitadas, com muita luz para assegurar a fotossíntese. Após milhões de gerações de pólipos, o resultado é um recife que não se mostra como algo definido, e sim como uma mescla de contornos, dimensões e formas de vida, cada qual determinada pelo ponto do oceano em que se encontra - o quão próxima está da costa, por exemplo - e também por outras forças, como a intensidade das ondas. Quando nos aproximamos do mar aberto, até um ponto em que há pouca luz e as águas são profundas, já não encontramos mais nenhum recife.

 

Por Jennifer S. Holland (Revista National Geographic Brasil)

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