Este blog é direcionado para os alunos da Escola Municipal Genildo Miranda no Sítio Lajedo em Mossoró-RN, para os alunos da Escola Estadual Rui Barbosa no município de Tibau-RN, para todos aqueles amantes da Educação Geográfica e também para os que se propõem a discussão de uma Educação contextualizada.

domingo, 29 de maio de 2011

Pesquisa de universidades do Ceará adverte para modelo excludente do crescimento de Mossoró

Mossoró-RN
O crescimento urbano de Mossoró nos últimos anos é indiscutível. A cidade tem ganhado novos empreendimentos comerciais, edifícios, mas especialistas em economia constatam que o município não tem se desenvolvido socialmente, pois esse crescimento não tem chegado à grande maioria da população.
A maior parte dos moradores está excluída desse processo, porque não tem acesso às grandes lojas do shopping, aos restaurantes, aos prédios residenciais, por exemplo. Ou seja, a riqueza de Mossoró não está sendo compartilhada com todos, segundo aponta pesquisa feita por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Ademais, o crescimento da cidade não uniforme se resume a áreas mais nobres da cidade. A periferia continua carente de avanços, de melhorias habitacionais e serviços públicos essenciais, e a população tem convivido com o agravamento de problemas urbanos, como a falta de transporte público, segurança, saúde.
Esse crescimento desigual, que privilegia áreas mais nobres da cidade, beneficia pequena parcela da população e exclui a grande maioria dos moradores, tem chamado atenção de pesquisadores científicos, que estão se debruçando sobre as consequências desse modelo de crescimento para o futuro de Mossoró.
Entre esses pesquisadores, estão Renato Pequeno, arquiteto e urbanista, ligado à Universidade Federal do Ceará, e Denise Elias, geógrafa vinculada à Universidade Estadual do Ceará, ambas as instituições em Fortaleza (CE). Eles publicaram o estudo "Tendências da urbanização e os espaços urbanos não metropolitanos".
Nesse trabalho científico, eles analisam o processo de desenvolvimento urbano de Mossoró, refletindo parte de uma pesquisa em desenvolvimento que tem como objeto alguns desses espaços e tem como objetivo principal apresentar uma das características que se tem mostrado recorrente a todas as cidades estudadas, qual seja, o aprofundamento das desigualdades socioespaciais.
A moradia é a variável principal escolhida para análise, e Mossoró foi escolhida como objeto de análise. O trabalho dos pesquisadores faz um diagnóstico de Mossoró nos seus mais diversos aspectos, a começar pela importância do município no contexto regional e motivos para expansão do município, estimulada pelos governos federal, estadual e municipal, que têm alocado recursos em infraestrutura necessária ao incremento da economia, bem como garantido subsídios para atrair empresários de diferentes setores.
"Entre nossas principais preocupações na pesquisa, está justamente compreender a dinâmica da urbanização, especialmente a partir dos novos agentes econômicos", escreve os autores, que destacam que todo esse crescimento urbano de Mossoró ocorreu sem o devido acompanhamento de uma política de desenvolvimento urbano eficaz, pautada em instrumentos de planejamento urbano adequados ao controle da especulação imobiliária.
Isso resultou, segundo os autores, no crescimento das irregularidades fundiárias e numa série de conflitos de uso e ocupação do solo, além de problemas de circulação e mobilidade, agravados com a deficiência do transporte público e ausência de políticas públicas eficientes de urbanização, sobretudo nas páreas mais periféricas.  

Criação de conjuntos marca desenvolvimento

Segundo os pesquisadores, a década de 1970 é um marco para a história de Mossoró. Intensificaram-se os movimentos populacionais do campo para a cidade, motivados pelas recorrentes dificuldades da agricultura de subsistência, atividade até então predominante no semiárido nordestino, e, em especial, pela substituição da força de trabalho manual pela mecânica na salinicultura.
Essa fase marca o surgimento dos primeiros conjuntos habitacionais, estimulado pelo poder público através de recursos do Sistema Financeiro de Habitação e dos programas do Banco Nacional de Habitação BNH, executados pela Cohab-RN e pelo Inocoop, o que representaram as principais intervenções urbanas dos anos 1970 e 1980, influenciando diretamente na configuração de um novo eixo de expansão da cidade associado, escrevem os pesquisadores.
Nos anos 1990, outros conjuntos vieram a ser construídos. "Em decorrência da implantação desses conjuntos habitacionais, a cidade passou a vivenciar um processo de crescimento descontínuo", dizem Renato Pequeno e Denise Elias.

Mercado imobiliário só atende a poucos

Segundo os pesquisadores, a verticalização em Mossoró encontra-se em sua maior parte concentrada desde o centro tradicional indo em direção a oeste, onde os loteamentos fechados passam a ser implantados.
Voltados para famílias de renda médio-alta, os condomínios verticais ocupam grandes lotes remanescentes da primeira fase de ocupação do bairro Nova Betânia, marcada pela construção de residências unifamiliares em grandes lotes.
"Essas formas de parcelamento do solo se apresentam como grandes alvos de especulação imobiliária, induzindo a implantação de infraestruturas urbanas - como as redes de água e esgotamento sanitário - e sistema viário nessas direções, em detrimento de vasta periferia desprovida de boas condições de habitabilidade urbana", escrevem.
Com isso, os pesquisadores reforçam a tese visível decorrente do avanço da verticalização e da especulação imobiliária: que as ações voltadas as áreas mais valorizadas do ponto de vista imobiliário não estão sendo executadas na mesma proporções das áreas periféricas, o que, se persistir, agravará o quadro de desigualdade e exclusão social de Mossoró.

Favelas agravam situação de desigualdade

A partir dos anos 80, o surgimento de favelas e de loteamentos irregulares agravaram a situação de desigualdade do processo de desenvolvimento urbano de Mossoró. "Esse processo de favelização, reconhecido em blocos, porém disperso e fragmentado pelas franjas periféricas da cidade, tem representado a principal demanda por políticas públicas de habitação mais recentes", escrevem os pesquisadores.
E acrescentam: "Ainda que tenha havido a tentativa de erradicar as moradias feitas de taipa, a cada dia, novas casas são erguidas utilizando tal material, refletindo o quadro de modernização excludente que tem predominado na cidade, onde as oportunidades atraem a muitos, mas efetivamente são alcançadas por poucos".
Também se constata que até aqui não houve um processo de planejamento na condução dessas ações, as quais se configuram como intervenções pontuais realizadas a partir de oportunidades de recursos obtidos junto a diversas fontes, advertem Renato Pequeno e Denise Elias, no texto científico.

 Fonte: Jornal O Mossoroense.

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