Arqueologia |
Nos últimos 30 anos, um pescador vem rastreando, à flor do chão, no alto de dunas, uma diversidade de objetos que podem reescrever a história da ocupação humana no litoral do Ceará. Vasculhando as areias nos arredores da vila de Ponta Grossa, em Icapuí, Josué Crispim já encontrou inúmeras pedras lascadas e polidas por homens pré-históricos, além de cerâmicas indígenas e objetos supostamente deixados por navegadores holandeses que passaram por ali no século 17, como moedas, talheres, garrafas e pedaços de porcelana. Os achados são tantos que já enchem um cômodo inteiro da casa simples onde o pescador mora com a família. Ele e o produtor de documentários Ricardo Arruda elaboraram um projeto para criar uma Casa de Cultura no local, mas falta de apoio financeiro para concretizar a ideia.
O caso ilustra bem como a arqueologia de zonas costeiras do Brasil carece de pesquisas mais consistentes. Para o arqueólogo Marcos Albuquerque, da Universidade Federal de Pernanbuco - UFPE, ainda não é possível traçar a linha da ocupação humana naquele litoral, pois "não foram feitas escavações, fundamentais para reconstruir o contexto em que os objetos seriam usados ou descartados de acordo com a posição tridimencional deles no sítio, nem datações para definir a origem aproximada de cada artefato", diz. "E o perigo é o avanço imobiliário impedir um estudo mais aprofundado", alerta Albuquerque.
Publicado na Revista National Geographic Brasil na edição de Março de 2011.
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