No Município de General Sampaio, uma programação vai destacar o Dia da Caatinga, 28 de abril
Limoeiro do Norte "Nessa vida eu só preciso/de um sorriso pra florar/ Terra seca desse meu peito/ Dê um jeito de arrancar. Ca cá ta vento vento/ Catavento (...) Roda roda catavento traz o tempo de cantar". A canção "Catavento", de Oswald Barroso e Eugênio Leandro, jorra lirismo de um bioma cujo patrimônio biológico não é encontrado em outra parte do mundo além do Nordeste brasileiro: a Caatinga. Esse ´mundão´ do qual se olhando no horizonte é imenso verde na estação chuvosa e esbranquiçado nos meses secos. Longe de ser região pobre, compõe o cartão-postal biológico em nove Estados, de rica fauna e flora e cheia de cataventos conectados com o subterrâneo. Já iniciaram comemorações pelo Dia Nacional da Caatinga, em 28 de abril.
Uma vegetação singular, de uma fauna igualmente ímpar, que atravessa Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o norte de Minas Gerais. Eis a Caatinga, um bioma essencialmente brasileiro. A palavra vem do Tupi, significa ´mata branca´. Tem uma imensa flora, com mais de mil espécies de plantas aqui encontradas, e centenas de espécies de aves e de mamíferos, e outras tantas dezenas de anfíbios e répteis.
No interior do Estado, professores e alunos se debruçam sobre o tema desse imenso bioma. É assim sempre que se aproxima o dia 28 de abril. A data é comemorada desde 2003, por decreto presidencial, ensejando homenagem ao ecólogo e professor João Vasconcelos Sobrinho, pioneiro nos estudos sobre o bioma. A Associação Ambiental Francy Nunes, em parceria com Associação Asa Branca, Ministério da Cultura e Governo do Ceará, lançou concurso de fotografia propondo "um novo olhar sobre o bioma Caatinga". As fotos vencedoras em 2010 foram olhares da vegetação no entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) em General Sampaio. São três fotógrafas: Fernanda Salviano Santos (1ºlugar), Maria Nilce da Silva (2º) e Priscila Thaiana Alves de Oliveira (3º lugar).
Concurso
O concurso é uma realização do ambientalista Francy Nunes, proprietário da RPPN. Era uma área privada que de ociosa virou verdadeiro laboratório da experiência de convivência com o semiárido. O senso de preservação estendeu-se a outros donos de terras e ganhou adesão de vários grupos ambientais.
O concurso deste ano só acontecerá no segundo semestre. Tal qual em 2010, premiará com câmera fotográfica o primeiro colocado, binóculo para o segundo, e um livro sobre meio ambiente para o terceiro colocado.
Conforme a gerente da Associação Francy Nunes e estudante do curso de especialização em Educação Ambiental da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Kelma Nunes, a intenção é que neste ano o concurso seja repercutido nas escolas públicas do Município de General Sampaio. "Os jovens que participaram de oficinas de fotografia e foram premiados no ano passado poderão, agora, repassar o que aprenderam, para encontrarmos outros olhares, de outros jovens", afirma.
A Caatinga ocupa cerca de 13% do território nacional, mas tem o terceiro ecossistema brasileiro mais degradado, atrás apenas da Mata Atlântica e do Cerrado. Suas riquezas naturais, quando não são desconhecidas, são exploradas exaustivamente ou subaproveitadas. "Há um estigma que a Caatinga não tem valor. É uma ideia que permeia ao longo de décadas, promovendo principalmente a baixa autoestima dos que nela habitam. Enquanto isso, cada vez mais vai-se dizimando a nossa ´mata branca´", lamenta ela. Mas o contentamento se dá pelas atividades de grupos ambientais, com apoio do Ministério do Meio Ambiente. Assim estão conseguindo desenvolver o Plano de Manejo em General Sampaio.
MAIS INFORMAÇÕES Associação Francy Nunes
Município de General Sampaio
Telefones: (85) 9129.8277/ (85) 9945.7258
BIODIVERSIDADE COMPROMETIDA
Exploração causa perda do território
Limoeiro do Norte Não há dúvida de que a Caatinga é rica em biodiversidade. Das várias espécies encontradas nesse imenso território, muitas são exclusivas do semiárido, só aumentando a relevância do lugar. Mas é também a Caatinga vítima da exploração desenfreada. Perdeu 60% do seu território original, segundo pesquisa realizada por dez instituições nordestinas, incluindo a Universidade Federal do Ceará (UFC). No diagnóstico do mau uso, as queimadas, o desmatamento e o abuso da monocultura agrícola. Apenas 2% do bioma está protegido de forma legal.
O bioma Caatinga abriga 932 tipos de plantas. Desses, 380 são exclusivas desse território. Para especialistas, a expansão da fronteira agropecuária no semiárido e o uso da lenha como fonte de energia são grandes contribuintes para a destruição do ecossistema. Assim se deu com o desmatamento para a produção da cana-de-açúcar em larga escala.
Monocultura
Mesmo nos perímetros irrigados, o cultivo na monocultura sem manejo correto tem provocado vários problemas. Sempre no mês de janeiro, o Perímetro Irrigado da Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, sofre com a incidência de fortes ventos. Os vendavais destroem principalmente as plantações de banana, gerando prejuízos milionários aos produtores do local. De acordo com geógrafos, um dos fatores para os estragos causados pelos ventos é justamente o grande desmatamento, com a destruição de árvores que, antes, funcionavam como quebra-ventos. Com o solo "limpo", o vento encontra espaço, e atinge justamente as plantações.
O levantamento que apontou a perda de 59,44% de área da Caatinga foi elaborado no ano de 2008 por 47 especialistas de várias instituições, dentre as quais: Associação Plantas do Nordeste (APNE), Embrapa, Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado da Bahia (Semarh), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, e as universidades federais de Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba.
Fernanda Salviano foi a vencedora do concurso de fotografia de 2010. A imagem retratou a vegetação da Reserva Particular do Patrimônio Natural em General Sampaio FOTO: FERNANDA SALVIANO |
Maria Nilce da Silva participou do concurso de fotografia no ano passado, realizado pela Associação Ambiental Francy Nunes, e tirou o segundo lugar com a foto acima FOTO: MARIA NILCE |
Foto que obteve o terceiro lugar no concurso da Associação, feita por Priscila Thaiana Alves de Oliveira FOTO: PRISCILA LAVES |
Fonte: Texto publicado na Coluna Regional do Jornal Diário do Nordeste em 17/04/11.
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