Este blog é direcionado para os alunos da Escola Municipal Genildo Miranda no Sítio Lajedo em Mossoró-RN, para os alunos da Escola Estadual Rui Barbosa no município de Tibau-RN, para todos aqueles amantes da Educação Geográfica e também para os que se propõem a discussão de uma Educação contextualizada.

domingo, 3 de abril de 2011

Educação rural continua fragilizada

O Projeto Inovação, Diversidade e Sustentabilidade na Gestão de Território Rurais, responsável pelo monitoramento e avaliação do desenvolvimento dos Territórios, Assu/Mossoró e Sertão do Apodi, divulgou números preocupantes da educação rural. Uma pesquisa, iniciada a pouco mais de seis meses, mediu o Índice de Condições de Vida (ICV) dos trabalhadores e mostrou que pouca coisa tem mudado no campo.
Em cada um dos dois territórios foram ouvidas 270 pessoas através de pesquisa de percepção. No Vale do Açu, onde foram registrados os piores índices, só 35,56% das pessoas com idade regular estão matriculadas e apenas 31,48% dos entrevistados maiores de 15 anos são alfabetizados. O reflexo desse distanciamento dos meios educacionais é o dado alarmante de que somente 11,48% da população rural analisada completou o primeiro grau.
No território Sertão do Apodi, os números são um pouco melhores, mas longe do esperado. O Índice é medido numa variação de 0 a 1 e a pesquisa revela que, no caso da região do Apodi, está em 0,596, o que é considerado nível médio.
De acordo com o diretor do Projeto, Emanoel Márcio Nunes, doutor em Desenvolvimento Rural, o campo ainda vive uma situação complicada. Para ele, os números refletem uma questão cultural que ainda resiste entre os ruralistas, de se preocuparem pouco com essas questões de educação, além de mostrar o desinteresse do país em mudar esse quadro. "Por mais que tenham aumentado os investimentos, faltam transportes e estradas na zona rural", registrou.
O professor Francisco José, ex-diretor da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) e coordenador geral do projeto Pedagogia da Terra, considera os números preocupantes. De acordo com ele, esses índices podem ainda ser mais sérios se a pesquisa pudesse contemplar todo o universo rural dos territórios.
O professor critica o modelo de educação vigente na zona rural que, segundo ele, é realizado de forma isolada. "Só em 2010, o governo estabeleceu, como política, as ações de educação no campo", critica.
Vera Lúcia de Abreu, professora do curso de Pedagogia na disciplina Concepções e Práticas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), reclama da falta de estrutura nas escolas e qualificação dos professores. "Na questão do EJA, que é muito forte na zona rural, tem ainda outro agravante: os professores reclamam da falta de acompanhamento e até fiscalização do governo", comenta a professora.
Outro dado sério, segundo Vera Lúcia, é que o EJA, ao contrário do passado, tem atendido principalmente aos jovens.
Para o reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido, Josivan Barbosa, a situação do semiárido do Rio Grande do Norte não é diferente do semiárido de outros estados do Nordeste. "O que nós temos assistido é um fluxo de pessoas da zona rural se deslocando para as cidades e poucas alternativas para evitar isso. Um dos problemas são as péssimas condições das escolas, além da situação dos professores, que além de tudo, não têm um salário diferenciado", sugere Josivan.
Para ele, é preciso fazer uma melhoria na estrutura educacional, no entanto, nada vai adiantar levar a tecnologia para a escola se não tiver um grande investimento, de capacitação e financeiro, para o professorado.

TRANSFORMAÇÕES

Muita coisa vem mudando para transformar esta realidade, como a expansão da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) que já atende três microrregiões além de Mossoró e agora está implantando cursos de especialização. A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) concluiu recentemente a primeira turma do curso de Pedagogia da Terra, voltada exclusivamente para os educadores da zona rural. 156 pessoas estão aptas a atuarem em suas regiões como graduadas.
A expansão do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) também deve contribuir com a mudança desse quadro, principalmente com o Técnico Integrado Proeja, que no município de Apodi atende, principalmente, a pessoas da zona rural. O Programa de Iniciação Tecnológica e Cidadania (ProItec) é outra alternativa viável. O advento das escolas rurais e das escolas técnicas estaduais - que terão a dimensão dos Institutos Federais - promete reduzir a disparidade educacional no interior do Estado.


Texto publicado no Jornal O Mossoroense em 03/04/11.

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