No coração do agreste nordestino, o Rio São Francisco oferece um banho de diversão para turistas em suas águas verdes e mornas
Num de seus muitos sucessos, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, diz que "o Rio São Francisco vai bater no mei´ do mar", referindo-se ao longo percurso do rio até desaguar no Atlântico. Pelas mãos do homem, o Velho Chico ganhou novos contornos. Permanece em seu caminho eterno, mas ganhou coadjuvantes em sua história entremeada com a vida no Nordeste brasileiro. Hoje, é o turista que vai bater no mei´ do agreste para inesquecíveis passeios nas águas calmas do rio.
A divisa dos Estados de Alagoas e Sergipe é o destino. Ali, a construção da barragem da Usina Hidrelétrica do Xingó deu origem a um reservatório com 65 quilômetros de extensão no meio do agreste nordestino. O Cânion do Xingó é o quinto maior do mundo e o maior em extensão navegável, com águas verdes e transparentes. A profundidade é de até 170 metros, enquanto a largura varia entre 50 e 300 metros.
A produção de energia elétrica era o único objetivo. Mas, eis que a nova geografia abriu caminhos de águas para o turismo. Navegar pelo Rio São Francisco deixou de ser apenas uma aventura. Virou puro lazer. E o turista não para mais de chegar.
O passeio começa na margem sergipana no Rio São Francisco. É do ancoradouro junto ao restaurante flutuante Karranca´s que partem os catamarãs Padre Cícero, Delmiro Gouveia e Rio do Cangaço ou a escuna Maria Bonita para a viagem pelo rio, num percurso com duração de três horas, sendo uma hora para banho. Quem preferir, segue em lanchas.
São oferecidos oito passeios diários de terça a domingo. A embarcação avança pelo cânion e o turista confere uma paisagem deslumbrante e sedutora. Chamam atenção, inicialmente, monumentos esculpidos pela natureza em formações rochosas, como a Pedra do Gavião, o Morro dos Macacos e a Pedra do Japonês.
O passeio continua e os navegantes cruzam com outras embarcações, como uma histórica e colorida canoa de tolda, e contemplam bem estruturados pontos de apoio às margens do rio. Ninhais de garças e ilhas fluviais completam o espetáculo.
Durante a navegação, com direito a trilha sonora que ressalta a beleza do rio, vem à mente a lembrança de que em algum momento da vida, o viajante, principalmente se for um nordestino, já ouviu falar do Velho Chico. Mas, só percorrendo suas águas para se dar conta de sua grandiosidade. Daí ser chamado, também, de Rio da Integração Nacional.
Tamanha beleza levou a Rede Globo a utilizar o cânion como cenário para muitas cenas da atual novela das seis da emissora, Cordel Encantado, que aborda a história do cangaço e o amor ardente entre nobres e plebeus às margens do São Francisco.
Gruta do Talhado
A embarcação desliza sobre as águas e alcança o Paraíso do Talhado, ponto mais estreito do cânion, onde despontam paredões areníticos avermelhados, permanentemente moldados pelo tempo e pela ação térmica. As rochas guardam vestígios dos primeiros habitantes da região, que ali viveram há mais de oito mil anos. É possível encontrar também marcas das andanças do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, em tempos menos remotos. O navegante aprecia a pequena gruta que abriga uma imagem de São Francisco e desembarca junto à Gruta do Talhado. O nome não poderia ser outro. Afinal, as paredes de rochas parecem ter sido talhadas a mão.
Uma plataforma flutuante serve para a atracação dos cata-marãs, escuna ou lanchas junto à gruta. No espaço, o visitante encontra lanches e artesanato. As crianças se divertem na piscina natural e na escada molhada. É hora de mergulho e banho refrescante dos adultos nas águas mornas do rio.
Quem não sabe nadar pode recorrer às boias e espaguetes flutuantes fornecidos pelos marinheiros. O grupo de navegantes fica cerca de uma hora no local. No período, canoeiros aparecem, oferecendo o passeio de 10 minutos no interior da gruta. Lá dentro, as pedras do cânion ganham dimensão ainda maior.
Os contempladores destas belezas aproveitam para se sentar no atracadouro e apreciar os caprichos da natureza. Basta apenas um pouco de imaginação para encontrar formas diversas nos gigantescos paredões rochosos.
No retorno ao ponto de partida, o turista aprecia novos ângulos do Cânion do Xingó, onde 980 espécies da caatinga se misturam às formações rochosas. Depois do desembarque, é hora de se deliciar com a culinária típica à base de peixe. Vale experimentar a tilápia, preparada no capricho no Restaurante Karranca´s. Agregada ao espaço está ampla estrutura de lazer e diversão náutica, além de tirolesa. Uma estátua de São Francisco em tamanho natural saúda e abençoa quem chega.
O visitante aproveita a estada na região e visita a Usina do Xingó. O passeio começa com apresentação de vídeos sobre a obra e termina com um tour pelas barragens de desvio. Impressiona a grandeza da hidrelétrica, a terceira maior do Brasil, com seis turbinas. Outros pontos de visita na região são o Museu de Arqueologia, o Sítio Arqueológico Mundo Novo e a Grota do Angico, local onde morreu o cangaceiro Lampião.
PIRANHAS
Histórias pra contar, belezas pra encantar
A localização privilegiada, às margens do Rio São Francisco, faz da pequena Piranhas, a 298 quilômetros de Maceió, a porta de entrada alagoana para o turista chegar aos cânions do Velho Chico. Mas, o destino não é apenas uma passagem. Ali, a parada é obrigatória. Quem chega se encanta com as belezas da Lapinha do Sertão.
Após cruzar o pórtico de entrada, basta um passeio pra entender o título. Piranhas é a única cidade do semiárido nordestino tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, contando com casario dos séculos XVIII e XIX, com arquitetura em estilo colonial inglês e português. A visão geral é mesmo de uma lapinha tamanho gigante que se estende à bênção do Rio São Francisco. O turista viaja no tempo.
As edificações em cores vivas chamam atenção, como a Igreja Santo Antônio de Lisboa e a Igreja Nossa Senhora da Saúde. O Conservatório de Música Cacilda Damasceno Freitas, antiga Cadeia Pública, abriga a Filarmônica Mestre Elísio, uma das mais afinadas bandas de música do Nordeste brasileiro.
O passeio continua e o turista chega ao Museu do Sertão. Localizado no conjunto arquitetônico da Estação Ferroviária de Piranhas, o espaço apresenta rico acervo de objetos e fotos sobre o cotidiano sertanejo e a saga do cangaço no sertão dominado pela caatinga. Uma estátua de Bom Jesus dos Navegantes se sobressai na mostra. Junto ficam lojas, café, a Torre do Relógio, o Centro de Artesanato, Arte e Cultura e a Casa do Patrimônio.
Também é destaque na mesma área o museu de réplicas de embarcações do Rio São Francisco e o espaço de artesãos especializados na técnica do couro almofadado, com aproveitamento da tilápia do Nilo, peixe criado em cativeiro no São Francisco. Na parte mais alta da cidade fica o Mirante Secular, acessível por 365 degraus. Foi construído pelos ingleses em comemoração à passagem do século XIX para o século XX. Do alto se desfruta de vista privilegiada do Centro Histórico de Piranhas.
O cenário de história e beleza serviu de inspiração para o saudoso seresteiro Altemar Dutra, bem como virou locação para filmes famosos, como Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues, e Baile Perfumado, de Lírio Ferreira. Piranhas é mesmo um recanto de grandes histórias do País, como as ligadas ao cangaço.
A pequena e pacata cidade foi ponto de partida da famosa volante comandada pelo tenente João Bezerra, que emboscou e matou o Rei do Cangaço, Lampião, sua eterna companheira, Maria Bonita, e todo o bando na Grota de Angicos, em 1938. Todos os cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas e exibidas na escadaria do antigo Palácio Provincial da cidade, onde hoje funciona a Prefeitura Municipal.
A cerca de três quilômetros de Piranhas, o visitante confere mais um atrativo histórico. No distrito de Entremontes fica a centenária e monumental Igreja de Nossa Senhora da Conceição e a casa que hospedou o Imperador Dom Pedro II, em 1859. O lugar também é famoso pelas peças artesanais produzidas em redendê, ponto de cruz e labirinto.
O passeio pela Lapinha do Sertão ganha em emoção com passeios ecológicos e aventureiros pelos morros que circulam o lugar e se completa com o mergulho nas expressões folclóricas, onde se destacam o reisado do Distrito do Piau, o pastoril, bandas de pífanos e os blocos de Carnaval, Borboletas e Trovadores.
Para celebrar a viagem, nada melhor do que saborear a variada culinária local, que inclui pratos à base de peixes e a tradicional feijoada de canoeiro e mais: pratos de inspiração sertaneja, como a carne de bode. Como sobremesa, vale provar o doce de coroa-de-frade, preparado a partir de um cacto nativo. (FB)
Saiba mais
LOCALIZAÇÃOPiranhas fica a 298 quilômetros de Maceió, com acesso pelas rodovias AL-101 Sul /AL-220 /BR-101 /AL-220 /AL- 225. A cidade situa-se a 12 quilômetros do Cânion do Xingó
PASSEIOSWS (www.wsturismo.com.br)
CVC Operadora (www.cvc.com.br)
Angico´s Tur (Alagoas) - 3686.1782)
Canistur (Alagoas) - 3686.3225)
ONDE FICAR:Em Piranhas-AL - Lírio do Vale (3686.3145), Pousada da Trilha (3686.1172), Maria Bonita (3686.1777), Pousada Lampião (3686.3335)
Em Canindé do São Francisco-SE - Xingó Parque Hotel (3346.1254)
Onde comer
Karranca´s - (82) 9984.1528
INFORMES TURÍSTICOS
www.piranhas.al.gov.br
www.mturxingo.com.br
CÓDIGO DDD: Alagoas (82), Sergipe (79)
FERNANDO BRITOREPÓRTER*
Viagem a convite da Revista Turismo & Negócios e da TAM