Subindo a Serra dos Bastiões, o cortejo homenageou Nossa Senhora do Carmo, lembrou a história de luta do quilombo que marcou a região e tem resgatado a tradição nordestina |
Em sua quarta edição, a Cavalgada a Nossa Senhora do Carmo, em Iracema, reúne os amantes da pecuária
Iracema Uma multidão de cavaleiros, vaqueiros e amazonas fez-se tropa numa cavalgada que só existe há quatro anos mas acontece com jeito de tradição. Rumo à igrejinha no alto da Serra de Bastiões, centenas de tropeiros montaram em seus cavalos e percorreram vários quilômetros ladeira acima na IV Cavalgada a Nossa Senhora do Carmo, realizada ontem no Município de Iracema. A região que já é berço da pecuária leiteira no Vale do Jaguaribe tem crescido rapidamente no número de adeptos da montaria como meio de transporte e de vida.
A Cavalgada a Nossa Senhora do Carmo, em Iracema, é movimento novo, mas bastante crescente: de 110 participantes da primeira edição, ontem pela manhã foram registrados cerca de 800 vaqueiros - embora tenham propagado a presença de mais de mil. O número expressivo já é pretensão dos vaqueiros entrevistados: consolidar a cavalgada como uma das maiores do Ceará.
Para menino que nasce, sara o umbigo e cresce em pleno sertão caatingueiro, o primeiro passeio é montado numa sela de cavalo. O último também, se depender da disposição de seu José Prata, de 80 anos é "um negócio que vem de dentro" que o faz até hoje dar carreira atrás de boi. Tomar umas cachaças com os amigos também. Estacionamento na frente de bar é um poste para amarrar os possantes que relincham. Muitos jovens têm moto, José Gildênio tem o "Tocha de Fogo", seu cavalo e companheiro. E na manhã de domingo, a janela que dá para a rua virou a televisão de dona Aparecida Guerra. Viu a tropa passar na frente de casa. E nela, os irmãos e primos. Jemisson Guerra, de 21 anos, desgarrou por uns instantes da tropa e encostou seu cavalo na calçada para fazer um agrado nos pais, Vanilde e Joeme Guerra. "Ele corre vaquejada, é a paixão dele", diz a mãe.
História de vida
Eurídes Maria Oliveira é vaqueira. Foi-se o tempo da vaquejada competitiva, hoje a competição é com a idade e a danação de suas 30 reses, que quando desgarram, ela tem que capturar. "Nada mal para quem tem 51 anos, né?". Nada mal para quem cavalga desde criança. Tem um pai que trabalhava na criação do gado, portanto cavalgava o dia inteiro. Casou com um vaqueiro e aprendeu com sua paixão a criar uma outra: a cavalgada. Mas depois ela se separou do marido, juntou-se com um... Vaqueiro! A cavalgada de ontem seguiu em cortejo pelo Centro da cidade. No pé da Serra de Bastiões, parada para o almoço e forró pé-de-serra. Com uma cachaça na mão, dona Eurídes foi enlaçar seu esposo no "forrozim". E a trilha musical não poderia ser outra: "oh, meu vaqueiro, meu peão, conquistou meu coração, e na pista da paixão valeu, boi...".
A procissão seguiu para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Serra dos Bastiões. Um planalto com o mesmo frio da Serra de Guaramiranga, mas nem tão conhecido. E foi por ser uma terra desconhecida que dois séculos atrás as escravas fugidas Sebastiana e Bribiana se esconderam e fundaram o quilombo. Os negros da população quilombola de Bastiões ainda reivindicam o direito a terra.
A subida íngreme até o povoado foi mais fácil para os cavalos do que os carros que acompanhavam o cortejo. Na igreja, a vaqueirama agradeceu a Nossa Senhora do Carmo, padroeira de lá. "É agradecer, pedir, agradecer, pedir, mas no final acaba em agradecer", explica o vaqueiro Elias Guerra, para completar que "o mais tem Deus pra dar". "Guerra" é o sobrenome mais popular em Iracema. "É a família maior", diz Ivoneide Guerra, uma entre centenas de "Guerras" na pequena cidade.
De acordo com Francisco Nogueira de Aquino, o Chico Pequeno, a Cavalgada tem conseguido integrar não só os vaqueiros de Iracema, como de Alto Santo, Pereiro e Ererê. É uma região onde predomina a pecuária leiteira, também a criação de reses soltas e a solidez do uso do cavalo como transporte, ultimamente competindo com as motocicletas. "Mas não vai substituir completamente, porque cada uma tem sua função, seu tipo de uso", afirma José Eliênio, vaqueiro e motoqueiro.
O vaqueiro e técnico agrícola, José Roque, esclarece que apesar do pouco tempo do evento, a cavalgada já acontecia na região, em idos de 1969, quando já acontecia a "missa do vaqueiro". Mas reconhece na nova cavalgada o início de uma tradição. Ou a revalorização da cultura vaqueira.
INCREMENTO
Vale do Jaguaribe tem forte tradição leiteira
O Vale do Jaguaribe é de tradição da pecuária leiteira. As fazendas espalhadas em Municípios como Morada Nova, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Pereiro e a própria Iracema são responsáveis por grande parte do abastecimento da indústria de laticínios. A produção leiteira local é o que abastece as dezenas de queijeiras espalhadas pelos Municípios, significando outro importante segmento econômico. É famoso o queijo coalho de Jaguaribe, por exemplo. A maioria dos cavaleiros participantes da IV Cavalgada de Iracema tem como atividade econômica a agricultura e a pecuária leiteira em suas pequenas propriedades.
Os jaguaribanos têm investido num segmento cheio de oportunidade. De acordo com a Agência de Desenvolvimento do Ceara (Adece), o leite está na sexta posição no ranking de produtos agropecuários relevantes. Também é um dos principais geradores de empregos no campo - 12% dos negócios agropecuários estão diretamente relacionados à produção leiteira. E o novo incremento do setor se dará, especialmente, nos perímetros irrigados. Empresas do sul do País estão migrando para lá, para a produção leiteira em grandes proporções. De acordo com José Roque Freire, técnico agrícola da Secretaria de Agricultura de Iracema, o setor de serviços e o setor primário na produção leiteira são os dois pontos mais importantes que movimentam a economia gerando emprego e renda.
Melquíades Júnior
Repórter
Iracema Uma multidão de cavaleiros, vaqueiros e amazonas fez-se tropa numa cavalgada que só existe há quatro anos mas acontece com jeito de tradição. Rumo à igrejinha no alto da Serra de Bastiões, centenas de tropeiros montaram em seus cavalos e percorreram vários quilômetros ladeira acima na IV Cavalgada a Nossa Senhora do Carmo, realizada ontem no Município de Iracema. A região que já é berço da pecuária leiteira no Vale do Jaguaribe tem crescido rapidamente no número de adeptos da montaria como meio de transporte e de vida.
A Cavalgada a Nossa Senhora do Carmo, em Iracema, é movimento novo, mas bastante crescente: de 110 participantes da primeira edição, ontem pela manhã foram registrados cerca de 800 vaqueiros - embora tenham propagado a presença de mais de mil. O número expressivo já é pretensão dos vaqueiros entrevistados: consolidar a cavalgada como uma das maiores do Ceará.
Para menino que nasce, sara o umbigo e cresce em pleno sertão caatingueiro, o primeiro passeio é montado numa sela de cavalo. O último também, se depender da disposição de seu José Prata, de 80 anos é "um negócio que vem de dentro" que o faz até hoje dar carreira atrás de boi. Tomar umas cachaças com os amigos também. Estacionamento na frente de bar é um poste para amarrar os possantes que relincham. Muitos jovens têm moto, José Gildênio tem o "Tocha de Fogo", seu cavalo e companheiro. E na manhã de domingo, a janela que dá para a rua virou a televisão de dona Aparecida Guerra. Viu a tropa passar na frente de casa. E nela, os irmãos e primos. Jemisson Guerra, de 21 anos, desgarrou por uns instantes da tropa e encostou seu cavalo na calçada para fazer um agrado nos pais, Vanilde e Joeme Guerra. "Ele corre vaquejada, é a paixão dele", diz a mãe.
História de vida
Eurídes Maria Oliveira é vaqueira. Foi-se o tempo da vaquejada competitiva, hoje a competição é com a idade e a danação de suas 30 reses, que quando desgarram, ela tem que capturar. "Nada mal para quem tem 51 anos, né?". Nada mal para quem cavalga desde criança. Tem um pai que trabalhava na criação do gado, portanto cavalgava o dia inteiro. Casou com um vaqueiro e aprendeu com sua paixão a criar uma outra: a cavalgada. Mas depois ela se separou do marido, juntou-se com um... Vaqueiro! A cavalgada de ontem seguiu em cortejo pelo Centro da cidade. No pé da Serra de Bastiões, parada para o almoço e forró pé-de-serra. Com uma cachaça na mão, dona Eurídes foi enlaçar seu esposo no "forrozim". E a trilha musical não poderia ser outra: "oh, meu vaqueiro, meu peão, conquistou meu coração, e na pista da paixão valeu, boi...".
A procissão seguiu para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Serra dos Bastiões. Um planalto com o mesmo frio da Serra de Guaramiranga, mas nem tão conhecido. E foi por ser uma terra desconhecida que dois séculos atrás as escravas fugidas Sebastiana e Bribiana se esconderam e fundaram o quilombo. Os negros da população quilombola de Bastiões ainda reivindicam o direito a terra.
A subida íngreme até o povoado foi mais fácil para os cavalos do que os carros que acompanhavam o cortejo. Na igreja, a vaqueirama agradeceu a Nossa Senhora do Carmo, padroeira de lá. "É agradecer, pedir, agradecer, pedir, mas no final acaba em agradecer", explica o vaqueiro Elias Guerra, para completar que "o mais tem Deus pra dar". "Guerra" é o sobrenome mais popular em Iracema. "É a família maior", diz Ivoneide Guerra, uma entre centenas de "Guerras" na pequena cidade.
De acordo com Francisco Nogueira de Aquino, o Chico Pequeno, a Cavalgada tem conseguido integrar não só os vaqueiros de Iracema, como de Alto Santo, Pereiro e Ererê. É uma região onde predomina a pecuária leiteira, também a criação de reses soltas e a solidez do uso do cavalo como transporte, ultimamente competindo com as motocicletas. "Mas não vai substituir completamente, porque cada uma tem sua função, seu tipo de uso", afirma José Eliênio, vaqueiro e motoqueiro.
O vaqueiro e técnico agrícola, José Roque, esclarece que apesar do pouco tempo do evento, a cavalgada já acontecia na região, em idos de 1969, quando já acontecia a "missa do vaqueiro". Mas reconhece na nova cavalgada o início de uma tradição. Ou a revalorização da cultura vaqueira.
INCREMENTO
Vale do Jaguaribe tem forte tradição leiteira
O Vale do Jaguaribe é de tradição da pecuária leiteira. As fazendas espalhadas em Municípios como Morada Nova, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Pereiro e a própria Iracema são responsáveis por grande parte do abastecimento da indústria de laticínios. A produção leiteira local é o que abastece as dezenas de queijeiras espalhadas pelos Municípios, significando outro importante segmento econômico. É famoso o queijo coalho de Jaguaribe, por exemplo. A maioria dos cavaleiros participantes da IV Cavalgada de Iracema tem como atividade econômica a agricultura e a pecuária leiteira em suas pequenas propriedades.
Os jaguaribanos têm investido num segmento cheio de oportunidade. De acordo com a Agência de Desenvolvimento do Ceara (Adece), o leite está na sexta posição no ranking de produtos agropecuários relevantes. Também é um dos principais geradores de empregos no campo - 12% dos negócios agropecuários estão diretamente relacionados à produção leiteira. E o novo incremento do setor se dará, especialmente, nos perímetros irrigados. Empresas do sul do País estão migrando para lá, para a produção leiteira em grandes proporções. De acordo com José Roque Freire, técnico agrícola da Secretaria de Agricultura de Iracema, o setor de serviços e o setor primário na produção leiteira são os dois pontos mais importantes que movimentam a economia gerando emprego e renda.
Melquíades Júnior
Repórter
Fonte: Coluna Regional do Jornal Diário do Nordeste.
foi tudo de bom, espetacular, melhor nao podia haver, agora so no proximo ano, tava muito linda
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